segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

O tão esperado encontro!

Sim, foi no dia 09 de Dezembro de 2013 pelas 9h28 que se deu o tão esperado encontro, o momento mais feliz da minha vida, aquele curto meio segundo que apenas permitiu uma olhadela tão rápida que só implorava em pensamento "quero vê-lo melhor" e 2 minutos depois a cena repete-se com o curto segundo e meio para olhá-lo.
Mas começando do início, escusado será dizer que na noite de domingo para segunda-feira não preguei olho, tinha a cabeça a mil à hora e não havia meio do tempo passar. A ansiedade por não saber o que me esperava, de pensar que dali a 24 horas a minha vida estaria virada de pernas para o ar ou até mesmo quantas voltas de 360º daria a minha vida e quão agitado poderiam as coisas ficar... E se eles nascerem com problemas? E se tiverem de ir para a incubadora? 35 semanas e 5 dias são tão prematuros... e a médica que não me deu a injecção para a maturação dos pulmões... ela esqueceu-se, só pode! E se as coisas correrem mal e terem de me dar anestesia geral? As minhas costas não vão aguentar! Tanta coisa em que pensar que mais valia me darem uma marreta na cabeça para desmaiar e acordar quando tudo tivesse a acontecer.
7 horas da manhã e já vamos a caminho da maternidade, estava marcado cesariana para as 8 horas. Chegada a maternidade com 20 minutos de antecedência as portas ainda estão fechadas... fico no carro a aguardar, as coisas começam bem, já estou à espera como é tão comum neste hospital e sinceramente esperava que passasse longas horas à espera até ser a minha vez de entrar no bloco operatório.
8 horas e as portas abrem, sou a primeira a ser atendida, entro logo para o gabinete da enfermeira e fico logo sem roupa e visto aquelas roupas lindas de hospital. A enfermeira faz um interrogatório do porquê eu fazer já cesariana com 35 semanas... mas não têm o meu processo? Querem que explique os últimos meses em 5 minutos? Perco a confiança que podia restar mas ainda penso que a minha médica vai lá estar e pelo menos há-de ler o que escreveu no processo e lembrar-se do essencial...
Numa questão de 10 minutos já estava a fazer ecografia para ver a posição dos bebés, porque a enfermeira não conseguiu ouvir o coração dos bebés como deve ser. Estão ótimos, o bebé S.A. está lá em baixo de cabeça virada para baixo portanto nascerá primeiro e o bebé S.I. está cá em cima deitado.
Sem demoras sou levada para ser introduzido o soro e vejo que já há uma grávida com soro à espera... Pronto, o hospital no seu melhor a deixar as grávidas à espera como eu previa. Como estava mentalizada que tinha de esperar, os nervos ainda não tinham vindo ao de cima, a enfermeira pica-me o braço, a veia rebentou! A enfermeira pica-me a mão, a veia rebentou! A enfermeira pica-me novamente o braço, a agulha não quer entrar, vamos espicaçar melhor no mesmo sítio e lá ficou o cateter, entretanto aparece outra enfermeira e pergunta se falta muito que estão a minha espera. Sério??? Com essa não estava à espera, no dia em que eu preferia esperar para me mentalizar melhor sou logo despachada? Lá colocam o soro à pressa e vamos que se faz tarde!
Começo a subir as escadas e fico mal disposta, enjoada, não sei se foi das picadelas todas, se foi do cansaço de subir as escadas mas chego ao andar de cima com falta de ar. Despeço-me do papá e fico no corredor enquanto uma enfermeira conversa com outra e a falta de ar não pára, começo a tossir incontrolavelmente, que peso no peito, que falta de ar, quero parar de tossir e não consigo! Um enfermeiro vê o meu estado e leva-me para dentro do bloco operatório e senta-me ao lado da maca onde farei a cesariana. Que imagem tão arrepiante, aquela sala fez-me lembrar uma sala do manicómio da série American Horror Stories. Ligam-me toda às máquinas e o enfermeiro mostra-me no ecrã o nível de oxigénio e está a 99%, serio? Isso devia-me acalmar mas a tosse não pára, começa a entrar cada vez mais gente. Aparece a anestesista com aquela simpatia dela e diz-me que tem um médico de outro hospital muito experiente e que veio de propósito para me ver, já que tinha falado que poderia haver problemas caso fosse necessário intubar-me, ela teve o cuidado de se prevenir e isso deixou-me bem mais confiante. O médico analisou-me a garganta, a coluna e ficou do lado de fora à espera caso fosse necessário chamá-lo.
Sento-me na maca e vem outra anestesista que nem cheguei a ver a cara dela e espeta-me os dedos na coluna, claro que encolhi-me toda! Começou a ralhar comigo e eu só pensei "mas ela não vai espetar-me já com esta tosse toda e se ela falha o sítio?" Pede-me para não respirar! A sério? Está a brincar ou a falar a sério? Sem respirar já eu estou! E a anestesista manda um berro para calar toda a gente do bloco... Estamos bem... Ela picou-me as costas e foi horrível, impossível não me contorcer! A seguir ela diz "não consegui tenho de repetir", preferia não saber! Pica-me novamente mas desta vez já não doeu tanto, fracção de segundos e já não doía nada. A seguir manda-me deitar... mas como? Tenho uma coisa nas costas, a imagem na minha cabeça de ter uma agulha nas costas e deitar-me em cima dela foi arrepiante mas lá me deitei... poucos minutos depois a tosse passou. "Sente frio ou calor nas costas?", era suposto sentir? Não sei o que sinto! Depois de hesitar respondi um tímido "não sei, não sinto nada", resposta certa.
Já me estavam a fazer coisas lá em baixo e eu não via nem sentia nada, o que se passa? Estou tão dormente que tenho tanto frio. Parece que me estão a passar qualquer coisa na barriga, deve ser para desinfectar mas não é agradável, só me faz sentir mais dormente...
Continuo sem saber o que se passa e começa uma agitação na sala, "preciso que venham buscá-lo!", buscar? buscar o quê? o que se passa? vem uma enfermeira com um pano estendido nas duas mãos para traz das minhas pernas e de repente ouço um choro, é o meu amor! O meu tesouro, quero vê-lo! Passam com ele ao meu lado, inclinam-lhe a cabeça para eu ver e seguem caminho para outra sala ao lado. Então? Onde o levam? O que se passa? Só ouço pessoas a falar, e um pergunta-me "como se chama?", outro "hora do nascimento: 9h28", "preciso que venham buscar outro!" tudo isto me parece tão rápido e todos a gritar como se tivesse dentro de um filme a assistir de parte. Outro choro, enfermeiro de toalha estendida nas mãos passa com outro bebé, inclina a cabecinha, pára à minha frente por um segundo e segue caminho para outra sala... "Como se chama este?", "hora de nascimento: 09h30". E os choros pararam, a sala volta a ficar calma. Não sei o que se passa... O que está a acontecer, o que fizeram aos meus bebés... roxos com uma camada branca que pareciam banhados a halibut, onde os levaram? Ninguém me diz nada e eu não tiro os olhos da porta por onde eles saíram, olho para o relógio na parede... Já são 09h45 e não sei de mais nada... não os voltei a ver nem ouvir... que aflição! Será que aconteceu alguma coisa e não me dizem nada? Um enfermeiro está perto de mim mas não pára de escrever. Já me estava a enervar e alguém diz "gémeo 1: 2295 gr", "gémeo 2: 2040 gr" e aparece um bebé nos braços do enfermeiro e chega-o perto de mim, posso vê-lo, beijei-lhe a testa e volta a sair. Aparece outro bebé nos braços da enfermeira, os dois estão vivos! Dei-lhe montes de beijinhos na testa, que momento maravilhoso que vou guardar para sempre comigo!
Volto a perde-los de vista e começo a ouvir um barulho que parecia uma agrafador... não deve ser! Deve ser outra coisa, espero que seja outra coisa porque aquele barulho parece de um filme de terror!
Fiquei sem saber o que era. Tiram-me o lençol da frente e vejo que estavam duas médicas do outro lado, duas médicas que eu nunca vi. Mas onde está a minha médica? Não era ela que cá deveria estar??
Não me interessa, aquela disse que da parte dela já estava pronto. Fiquei satisfeita só com essa frase.
Finalmente dão-me os bebés para eu pegar, um em cada braço, e levam-me dali. Vou para o corredor onde o papá já me espera. O olhar de felicidade do papá foi enternecedor. Olho para os meus meninos e são perfeitinhos, como eu os amo!

Sem comentários: